25/11/2004

Curiosidades sobre o piano e a sua evolução

A mais antiga referência que tenha algum relacionamento com o actual piano remonta ao ano de 2650 A.C.. O KE era um instrumento chinês de corda beliscada. Consistia num conjunto de cordas esticadas sobre uma caixa de ressonância em madeira com aproximadamente 170 cm de comprimento. Os primeiros "KE" tinham cerca de 50 cordas de seda e cada corda era constituída por 81 fios entrelaçados. Os chineses da época consideravam o KE um instrumento sofisticado capaz de proporcionar óptimas performances. É um instrumento que ainda se usa no folclore chinês.

Outra referência que tenha algum relacionamento com o actual piano remonta ao ano de 582 A. C. Nesse ano Pitágoras usa um pequeno instrumento de corda com o nome de MONOCÓRDIO. O monocórdio consistia numa caixa de madeira com apenas uma corda, presumivelmente feita de tripa de gato. Pressionando a corda em pontos diferentes e depois beliscando-a conseguia-se produzir sons de alturas diferentes.

O monocórdio foi divulgado principalmente através dos gregos e, mais tarde, dos romanos que o usavam também como instrumento de apoio aos coros das igrejas, apenas para dar a nota inicial.

Apesar de haver algumas dúvidas, há historiadores que defendem ter sido um aluno de Pitágoras que conseguiu quantificar devidamente o fenómeno da altura do som e aperfeiçoar o temperamento de intervalos iguais. Chama-se temperamento à correcta diferença de altura entre os 13 sons de uma oitava.

O temperamento de intervalos iguais esteve no esquecimento até Bach escrever os 24 prelúdios de " O Cravo Bem Temperado", em 1722. Essa obra foi a primeira a exigir de facto uma afinação desse tipo porque percorria todas as tonalidades em modo Maior e Menor. O sistema que prevalecia anteriormente era o temperamento de meios tons, que dava uma maior aproximação da afinação natural que o temperamento de intervalos iguais, para o tom de Dó Maior (por exemplo) e os outros tons relacionados de perto com ele, mas afastava-se de tal maneira dos tons afastados de Dó que se tornava praticamente impossível tocá-los visto que a sonoridade se tornava desagradável. Esse fenómeno obrigava a que para um espectáculo musical fosse quase obrigatório escolher repertório só de uma tonalidade: aquela para a qual a afinação estivesse prevista.

Cerca do ano 1000 em Itália começaram as primeiras experiências de adaptação de teclas a vários instrumentos musicais de sopro. Dessas experiências nasceram os primeiros ÓRGÃOS. Um órgão na sua versão "original" é um instrumento em que o ar comprimido por um sistema de foles passa através de tubos que irão produzir o som de cada nota. A função da tecla é simplesmente abrir a passagem de ar para o tubo que se pretende, tal como acontece, por exemplo no acordeão. Timbres diferentes são conseguidos usando bocais diferentes: com palheta livre (tipo acordeão ou harmónica), com diversos tipos de bisel, etc.

Rapidamente o numero de cordas foi sendo aumentado e durante os séculos XII e XIII muitas experiências foram feitas no sentido de se construir um instrumento de cordas com teclado que pudesse produzir correctamente todas as notas de uma escala. Essas experiências conduziram ao CLAVICYTHERIUM. Este era um instrumento muito rudimentar onde as cordas estavam dispostas num chassis de forma triangular e de estrutura muito simples. As cordas eram de tripa de gato e em cada tecla havia um tangente metálico que tocava na corda produzindo o som.

Aqui há divergências de opinião, visto que para alguns historiadores o CLAVICYTHERIUM seria o nome que os ingleses davam a um instrumento de cordas do tipo do cravo, mas com as cordas na vertical, embora, para outros, esse instrumento seja o VIRGINAL.

Outros defendem que o CLAVICYTHERIUM terá sido inventado em Itália cerca do ano 1300 e que terá sido copiado e aperfeiçoado por alemães. Esse aperfeiçoamento terá conduzido ao CLAVICÓRDIO.

Os primeiros CLAVICÓRDIOS foram construídos no séc. XV e tinham apenas 20 ou 22 cordas de latão, que eram postas a vibrar por um sistema tão simples como original, mas de qualquer forma muito pouco eficaz. Na ponta da tecla havia uma pequena lâmina metálica de nome tangente, montada em posição vertical. O movimento da tecla fazia a tangente encostar à corda.

Entre os séc. XV e XVIII o CLAVICÓRDIO passou por vários estádios experimentais que se traduziram numa interessante evolução. Em 1725, o alemão Daniel Faber construi um clavicórdio com uma corda para cada tecla e com uma fita de feltro entrelaçada na parte não vibrante das cordas para evitar vibrações desnecessárias e desagradáveis pelo que no início do Séc XVIII este reúne já 4 das mais importantes características do piano moderno: Tampo harmónico independente, cordas de metal, o modo de agitar a corda por percussão e finalmente os abafadores.

Os abafadores têm como função interromper a vibração das cordas quando se larga a tecla. Só nesta época este instrumento atingiu o estado " adulto", permitindo que o executante se exprimisse correctamente. Apesar de apresentar um volume de som muito fraco, o clavicórdio era capaz de produzir delicados gradientes de toque, permitindo executar crescendos e diminuendos como até então não tinha sido possível. Virtuosos como Johann Sebastian Bach e Emanuel Bach escrevem para este instrumento, tirando partido das possibilidades de vibrato que o mecanismo proporciona.

Bach, Mozart e Beethoven, chegaram a preferir o CLAVICÓRDIO ao mais potente CRAVO até que surgiu um novo instrumento que dava pelo nome de PIANOFORTE que soava "mais forte".

Cerca de 1503, Giovanni Spinetti, de Veneza, constrói um instrumento de forma alongada, com cordas compridas de latão e um grande tampo harmónico abrangendo a totalidade do espaço disponível, o que fazia aumentar o volume de som. Neste instrumento as cordas não eram agitadas por um tangente, mas sim postas em vibração por um plectro acoplado a um saltarelo. O plectro era feito de pena de pato e colocado na ponta do saltarelo de modo a beliscar a corda ao passar por ela. O saltarelo era uma peça de madeira fina e com cerca de 10 centímetros de comprimento, que ficava apoiada na extremidade da tecla e que acompanhava o movimento da mesma, Uma pequena peça de feltro acoplada na ponta do saltarelo fazia funções de abafador, impedindo a corda de continuar a vibrar após a tecla voltar à posição de repouso. Esse instrumento chamou-se ESPINETA.













Apesar do sistema de funcionamento da ESPINETA não permitir qualquer expressividade relacionada com o controle da intensidade, foi um instrumento que se tornou muito popular graças ao facto de produzir maior volume de som que o CLAVICÓRDIO.

As espinetas variam o seu tamanho entre 1 metro e 170 centímetros aproximadamente. As mais pequenas podiam ser colocadas directamente sobre uma mesa, o que aumentava ainda um pouco mais o volume sonoro.

A evolução da espineta terá dado origem ao CRAVO, instrumento com o mesmo tipo de mecanismo mas com mais e maiores cordas.A meio do séc. XVII foram construídos cravos com 2 teclados e 3 cordas por cada nota. Como forma de aumentar ainda mais o volume e o "corpo" do som, dois teclados podiam ser acoplados, isto é, quando se tocava num deles o outro movimentava-se fazendo soar também as suas cordas.

Estas evoluções ao longo do séc. XVII tornaram o CRAVO no instrumento preferido em detrimento da ESPINETA. Todavia essa vantagem não seria assim tão duradoura. Apesar de no Séc XVIII se terem experimentado plectros com a ponta forrada de cabedal macio, a sonoridade continuava a não ser totalmente satisfatória e a total ausência de controle de intensidade em tempo real ditaram o declínio do CRAVO, que viria a ser preterido para o PIANO E FORTE.

Não deve no entanto entender-se que no fim do Séc XVIII de repente toda gente passou a preferir o PIANO E FORTE. Há que ter em consideração que tanto o CLAVICÓRDIO como o CRAVO e até a ESPINETA eram instrumentos "adultos", que tinham atingido a "perfeição" após se terem conseguido livrar de alguns sistemas de mecanismo bizarros e das sonoridades menos satisfatórios. O próprio PIANO deve muito ás experiências que se fizeram em ambos os tipos de instrumentos, o CLAVICÓRDIO (de corda percutida) e a ESPINETA e o CRAVO (de corda beliscada), visto que ainda actualmente há elementos de ambos que nele coexistem. Salienta-se no entanto, que o piano, por ser de corda percutida, está mais próximo do CLAVICÓRDIO que do CRAVO.

O CRAVO, a ESPINETA e o CLAVICÓRDIO neste período "lutavam" para se fazer ouvir contra orquestras e salas cada vez maiores e com mais público.

Neste período começaram também a aparecer os instrumentos de tecla com mecan~ismo de martelo. Por exemplo, o Dulcimer que existia na época e que tinha capacidade de suportar a energia do martelo, instrumento muito simples, com uma estrutura muito resistente, suportando cordas metálicas de aço, pesadas e muito tensas.

No DULCIMER é o executante que segura os martelos nas mãos atacando as cordas directamente. Toca-se como se fosse um xilofone. Christoph Schroter, organista alemão, declarou que a ideia de um mecanismo com martelo lhe ocorreu depois de ouvir um enorme DULCIMER. Esse novo mecanismo era substancialmente diferente do sistema do cravo. Bartolomo Christofori, de Pádua, em 1707,apresentou um instrumento a que deu o nome de PIANO E FORTE. Esse instrumento foi exibido em 1711 e tinha uma caixa parecida com a do cravo, em forma de asa, mas muito mais resistente para que pudesse suportar as cordas de aço, pesadas e tensas. Permitia tocar desde o mais suave pianíssimo até ao fortíssimo, daí o nome que lhe foi atribuído.

A grande época do desenvolvimento do PIANO E FORTE aconteceu entre o meio do Séc XVIII e o fim do Séc XIX. Foi também nessa fase que se começou a reduzir o tamanho, tentando passar do formato do tipo asa ou cauda, para os formatos verticais ou de mesa. Em 1745 C. E. Friederici construiu o primeiro PIANO vertical e cerca de 1758 o primeiro PIANO de mesa.

Este novo tipo (o de mesa) tinha uma caixa rectangular parecida com a do clavicórdio e as cordas eram colocadas no sentido do maior comprimento, paralelas ao teclado.

Ao longo desse período o nome PIANO e FORTE evoluiu para PIANOFORTE e depois para PIANO.

Em 1775 já havia construtores de PIANOS na Alemanha, em Inglaterra, França e América.

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